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- Ponto Cultural OCAS visita a Bienal de Arte de São Paulo
No dia 1 de outubro, participantes da oficina de fotografia do Ponto Cultural OCAS, militantes do MNPR, Aline, estudante e estagiária de Terapia Ocupacional da USP e o jornalista e fotógrafo Alderon Costa, participaram de uma visita à Bienal das Artes de São Paulo no Parque do Ibirapuera. A experiência foi registrada por meio de fotos e reportagem dos participantes da Oficina de Criação de Texto do Ponto Cultural OCAS. Muitos participantes nunca haviam ido a uma exposição como esta, como Bob Neto. Para ele, “foi possível sair um pouco do clima negativo das ruas e ocupar a mente com as coisas belas que vi. A ida à Bienal de Arte foi muito legal. Pude ver muitas artes que aumentaram meu interesse pelas produções artísticas”. Assim como Bob, Carlinhos Luz também nunca havia visitado a Bienal de Artes de São Paulo. “Estou achando muito legal, é sensacional. Eu nunca havia visto nada parecido”, disse Carlinhos. Entretanto, para outros participantes, como Sidnei, a visita despertou uma questão: O que a Bienal das Artes tem que ARTicula, movimenta e transforma toda a estrutura de um país do ponto de vista social e em relação à realidade dos brasileiros? Sidnei acredita que, “para as transformações no meio social acontecerem de fato, principalmente para a população em situação de rua, é necessária muita criatividade por parte de sociólogos, cientistas políticos e gestores públicos, fator este que não é encontrado nas políticas assistenciais da cidade de São Paulo”. Para aqueles que se interessam e querem ter contato com arte, política, atitude e reinvenção da realidade, a 29ª Bienal de Arte de São Paulo está acontecendo no Parque do Ibirapuera até 12 de dezembro, com entrada franca. Edição N° 192 - Novembro de 2010
- Escondidos para não morrer
Depois de 31 mortes de pessoas em situação de rua na cidade de Maceió e uma em Arapiraca, interior Alagoas em 2010, o prefeito da capital do Estado criou comitê para acompanhar e propor políticas públicas integradas para a população em situação de rua da cidade. A situação dos assassinatos em Maceió começou a se agravar a partir de julho, quando já se contava com 18 mortes, todas elas, de pessoas em situação de rua. Para a OAB local, era uma indicação clara de extermínio das pessoas que moram nas ruas de Maceió. Após essa denúncia tudo continuou na mesma, lembra o Secretário dos Direitos Humanos de Maceió, Pedro Montenegro. Até que no dia 26 de outubro, em uma das avenidas mais movimentadas do bairro da Ponta Verde, região que tem o mais caro metro quadrado da capital, José Sérgio dos Santos, de 32 anos, conhecido como “Cotó”, foi assassinado. Cinco dias depois, em 31 de outubro, o flanelinha Wanderson Bezerra Félix, o “Timbalada”, também foi morto violentamente. As duas vítimas foram assassinadas a tiros de pistola, calibre 38. Com estas duas mortes, as denúncias vieram a público apontando a quantidade de outras ocorridas desde o início do ano e, principalmente, de pessoas em situação de rua, explica Dr. Ivair Alves dos Santos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), designado para acompanhar as investigações. Ele lembra que desses casos, apenas dois tinham tido relatório de “corpo de delito”, numa demonstração clara da incapacidade de solucionar os crimes. Para ajudar nos trabalhos de investigação, o Ministério da Justiça enviou a Alagoas, a Força Nacional de Segurança Pública, que vem oferecendo colaboração à Polícia Civil para concluir cerca de quatro mil inquéritos, entre eles, os relativos às mortes dos moradores de rua. Os assassinatos representam 10% das pessoas, levando em conta dados da Pesquisa Nacional realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social em 2007/2008, que deram conta de que 300 pessoas, aproximadamente, moram nas ruas da capital alagoana. Quais as explicações para esse extermínio? Elas estão por vir, mas as primeiras investigações realizadas pela Polícia Civil alagoana, com o auxílio da Força Nacional indicaram, em relatório de 21 de novembro, que a maioria dos crimes estão ligados à questão das drogas. 61,5% dos assassinatos já estão esclarecidos – com autoria definida – e sete acusados estão presos. Para Edmilson Vasconcelos, psicólogo da Secretaria de Assistência Social de Alagoas, essa situação faz parte da realidade de violência generalizada existente no Estado. “O mapa da violência, elaborado pelo Instituto Sangari, criado em 2000, aponta Alagoas como o 11º lugar em número de homicídios em 2004. No ultimo levantamento, em 2007, Alagoas subiu para o 1º lugar no ranking de homicídios”. Segundo Edmilson, a violência se tornou natural podendo levar diferentes grupos sociais a se acostumarem com essas barbáries. “Vemos com muita tristeza e amargura por ver vidas sendo tiradas de uma forma tão brutal, pelo simples “crime” de estarem em situação de rua, como se isso pudesse ser crime. Temos medo de que essas mortes caiam no esquecimento ou que não sejam devidamente esclarecidas e apuradas”, declarou Maria Lúcia Pereira dos Santos, representante do MNPR de Salvador. Para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, as investigações devem continuar para esclarecimento de todos os casos e analisar em profundidade as razões desse massacre. "Eu não posso prejulgar, mas quero dizer que o número de mortes em Maceió é alto demais para a gente dar, de batido, essas primeiras conclusões. Vamos ver direito”, declarou o ministro Paulo de Tarso Vannuchi à Gazeta de Alagoas. Edição N° 193 - Dezembro de 2010
- Fórum Permanente discute pesquisa e avalia políticas públicas de trabalho
Próxima reunião do Fórum Permanente: dia 23 de novembro às 9 horas na Casa de Oração (R. 25 de janeiro/ Djalma Dutra - Luz) No dia 19 de outubro de 2010, na Casa de Oração, com a presença de aproximadamente 130 pessoas de várias cidades do estado, ocorreu reunião do Fórum Permanente para a realização do Seminário “Trabalho e Geração de Renda para a População em Situação de Rua”. Após formação da mesa, houve apresentação da pesquisa e debate. Carolina Ferro, coordenadora da pesquisa destacou a necessidade de conhecer mais esta população, de cruzar demanda e oferta de mercado, de acompanhamento psicossocial e encaminhamento ao trabalho como ações fundamentais dentro das políticas públicas de trabalho. A representante da Smads, Rosely G. César, falou sobre a parceria realizada com o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação (SEAC) firmada em agosto deste ano, disponibilizando vagas para trabalho com vínculo empregatício a adultos ligados à Rede de Acolhida. A Secretaria do Trabalho, por meio de seu representante José Luiz Prado, expôs o conjunto de programas existentes na Secretaria, incluído o Programa Operação Trabalho em que as pessoas recebem bolsa para a capacitação recebida. Dr. Ivair dos Santos, representante da Secretaria Especial de Direitos Humanos participou de vários momentos do Fórum e enfatizou a importância da intersetorialidade com a criação de comitês municipais capazes de articular ações e propostas efetivas dentro das políticas públicas. Dr. Tabajara Novazzi Pinto, coordenador do Centro de Direitos Humanos da Academia de Polícia, destacou a presença no Fórum de 20 delegados de polícia interessados na discussão. ”Desde que eu trabalho com direitos humanos, diz-se que tudo é utopia, mas ela nos serve para andar, como esse encontro em que nos conhecemos mais. É um caminhar histórico que estamos fazendo”, finalizou. Ao final, ficou acertado que representantes da Smads, Secretaria do Trabalho, Saúde e Habitação e do Fórum Permanente vão se reunir para discutir propostas articuladas de políticas públicas. Além disso, um grupo apresentará alternativas concretas até 15 de novembro para a efetivação do Plano Setorial de Qualificação. Contratação de policiais militares pela Prefeitura Dr. Eduardo Valério, promotor de Justiça em São Paulo falou, dentre outras questões, sobre a apreensão de revistas dos vendedores da OCAS na Avenida Paulista. Ele “imagina” que possa estar relacionado ao “Bico legal”, em que a Prefeitura contrata policiais militares nos seus horários de folga para fiscalização do comércio ambulante. “O que nos preocupa é que há notícia de que a Prefeitura de São Paulo pretende ampliar essa parceria com a Política Militar, no ano que vem, também para que a PM atue com relação à população de rua. Estamos aguardando mais informações”, finalizou Dr. Valério. Edição N° 192 - Novembro de 2010
- “Sangue sem nome”
Dom Antonio Muniz, arcebispo de Maceió, recebeu O Trecheiro logo após uma celebração na Casa dos Pobres, serviço que atende pessoas idosas sem moradia ligado à Igreja Católica. Desde o início da conversa, estiveram também presentes, Dr. Ivair Alves dos Santos, da Secretaria de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, da Secretara de Direitos Humanos de Maceió, Carlos Alberto Ricardo Jr., do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e padre Manoel Henrique da Arquidiocese de Maceió. Dom Antonio nos comoveu dizendo que aquele sangue que estava sendo derramado em Maceió era como se fosse o seu próprio sangue. “Aquele sangue era um sangue sem nome, um sangue de ninguém”, declarou dom Antonio. Afirmou que além de matá-los, a sociedade os incrimina como se fossem eles próprios os culpados de suas mortes. O Trecheiro: Como o senhor está vendo os assassinatos dos moradores de rua em Maceió? Estou vendo com perplexidade como todas as pastorais do Brasil estão vendo. Precisamos de uma resposta para direcionar atitudes bem concretas, porque a gente não pode agir nessa situação de incerteza. O Trecheiro: Toda essa movimentação que está acontecendo em Maceió pode produzir algo de positivo? Acredito que sim, porque vai criar, vai produzir um basta, um basta ao desrespeito à vida do ser humano. Unamonos em atitudes concretas para defender, onde quer que seja, essa vida. O Trecheiro: Qual é a contribuição da Igreja para resolver a questão da população em situação de rua? Já oferecemos vários serviços, como a Casa do Servo Sofredor, o Juvenópolis. Agora temos a Casa Betânia para as meninas, a Fazenda da Esperança para tratamentos de dependência química e outras iniciativas feitas e gerenciadas pela Igreja. São respostas a essa nossa problemática, a Mesa da Igreja, a Casa do Pobre e assim outras instituições que estão dando respostas. O Trecheiro: O que o senhor poderia falar aos moradores de rua e à sociedade a partir desses acontecimentos? Queria falar de esperança, é preciso que haja esperança, é preciso que tenhamos um coração aberto à população de rua, para que a gente possa buscar juntos as soluções. E da parte do governo, a gente exige e quer que aconteçam as políticas públicas, que são os cabides onde a gente pode colocar as iniciativas que possam mudar um pouco este quadro. Trazer vida e esperança para essas pessoas e famílias. Hoje já são famílias que vivem nas ruas e precisam que a gente dê uma resposta para tudo isso. Edição N° 193 - Dezembro de 2010
- MP defende implantação de políticas públicas
O jornal O Trecheiro entrevistou o Dr. Flávio Gomes da Costa, promotor de justiça e coordenador do Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público de Alagoas. O Trecheiro: Qual a análise que o MP faz desses assassinatos em Maceió? Diante dos acontecimentos precisamos de duas ações principais. A primeira é a intensificação das investigações policiais para que sejam descobertos os autores dos crimes. O segundo ponto é a questão das políticas públicas para a população em situação de rua, não só a Assistência Social, mas Saúde, Habitação e também os programas federais. O Trecheiro: Como está a questão dos inquéritos policiais? Hoje, um inquérito policial se baseia numa prova testemunhal e outra pericial. A prova pericial, os laudos ainda estão sendo confeccionados. No caso das provas testemunhais está mais difícil. A grande maioria ainda está sem autoria identificada. Temos que conseguir o máximo de esclarecimento dos crimes para dar um basta à impunidade. A impunidade gera violência. Temos mais de dois mil inquéritos atrasados pela falta de estrutura da polícia. O Trecheiro: Como fica a questão da política pública? A população em situação de rua pode ter alguma esperança? A política pública vai ter que acontecer. Não é uma questão de favor. Não tem para onde correr. Ou se lança essa política pública ou então o MP vai ter que entrar com ações judiciais para forçar os gestores públicos a fazerem sua parte. Ninguém nasceu para morar na rua "A gente vivia como se a população de rua fosse a coisa mais normal do mundo. Graças a Deus foi levantada essa luta agora para que a gente acordasse para ver que ninguém nasceu para viver na rua. Percebo que a população de rua tem que se organizar e não viver da tutela do governo”. Lucia Moreira, assistente social da Universidade Federal de Alagoas. Edição N° 193 - Dezembro de 2010
- “Aqui não tem futuro”
Em visita às ruas de Maceió, no dia 10 de novembro de 2010, encontramos um grupo de rapazes que estavam vigiando carros. Eles são chamados, popularmente, de flanelinhas por estarem sempre com um pano nas mãos para limpar os carros. Como já não tinha muito trabalho, conseguimos sentar num banco na orla que por segurança não vamos identificar. Lá estavam o Secretário Municipal de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, o assessor da Secretaria de Direitos Humanos, Ivair Alves dos Santos, dona Célia Maria dos Santos, da Pastoral Social da Arquidiocese de Maceió e equipe do jornal. Não foi difícil iniciar a conversa com os três rapazes que ali se encontravam. Todos eram usuários de crack e dormiam naquelas redondezas da praia. Um deles, que vamos chamar pelas iniciais, DCM, já estava naquela região há três anos. Seu trabalho era vigiar e lavar os carros dos turistas. De onde conseguia dinheiro para manter a compra do crack que era consumido durante o dia. “Eu trabalho durante a noite e de dia não consigo dormir, só fumando o diabo desse crack . Comecei a fumar maconha quando tinha 16 anos. Mas só foi experimentar uma pedra e fui direto. Já estou nessa há três anos”, declara DCM. Como em quase todas as histórias, as desses rapazes são bem parecidas. Tudo começa com uma fumada de maconha e depois chega ao crack . “Ninguém me ofereceu. Nós não somos crianças. A gente pega as coisas se quiser. Eu comecei com a maconha, depois veio o melado (pedra e a maconha). Depois do mesclado fui para a lata e não parei mais e estou nesta vida que você está vendo. Vacilou já era”, afirma DCM. Muitas vezes, a rua é uma saída para não prejudicar a família. “Para não cometer novos erros saí de casa. Já faz aproximadamente uns três anos que estou na rua. Tenho uma filha de cinco anos, mas fazer o que da vida? Não tenho como sair. Só consigo sair se alguém me ajudar. Não gosto dessa vida. Vivo assim, mas não gosto. O que fazer”? questiona DCM. A saída para esta situação existe. “Arrumar um abrigo onde a gente possa trabalhar, se alimentar bem e tomar remédios para não voltar nessa vida, pois aqui não tem futuro”, declara DCM. Sua rotina é lavar carro e amanhecer o dia acordado. “Eu tenho medo de morrer aqui. Fumo 20 a 30 pedras e lavo, em média, sete carros por dia e chego a tirar um bom dinheiro que vou entregando na mão do traficante”. Após algumas intervenções ficamos mais algum tempo com aquele grupo que ainda estava com medo da situação. Marcamos de nos encontrar no outro dia e o fizemos. Isso possibilitou que DCM se encontrasse com o prefeito José Cícero Soares de Almeida e participasse da formação de novos educadores de rua da Prefeitura. Atualmente, DCM está se tratando e esperamos que ele siga o conselho que deixou a todos. “O conselho que dou é que volte para a família e vá trabalhar. O futuro para quem entra nessa vida é morte ou cadeia”. Edição N° 193 - Dezembro de 2010
- Criação da Rede Brasil de Publicações de Rua
Nos dias 6 e 7 de novembro de 2010 na sede da Ocas, realizou-se o I Encontro Nacional de Jornais e Revistas de Rua do Brasil com a presença de representantes das revistas Aurora da Rua (Salvador/BA), Boca de Rua (Porto Alegre/ RS) Revista Ocas” (São Paulo/ SP e Rio de Janeiro/RJ) e do jornal O Trecheiro (São Paulo/ SP). Inicialmente, Dr. Ivair Alves dos Santos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, fez uma retrospectiva dos trabalhos realizados pelo Comitê Intersetorial de Monitoramento das Políticas Publicas (Ciamp Rua) desde sua criação em dezembro de 2009, com destaque das principais prioridades acordadas dentro do Comitê, a saber: destinação de recursos ao IBGE para a contagem da população de rua nas principais cidades brasileiras; criação do Centro de Defesa de Direitos Humanos em Belo Horizonte; destinação de 1.000 vagas de qualificação no país pelo Plano de Capacitação Profissional (Planseq); cessão de prédios da União em parceria com o Movimento de Moradia, para que reserve vagas às pessoas em situação de rua, incluído o Programa “Minha Casa, Minha Vida; discussão dos megaeventos; comitê específico da Saúde com a capacitação do SAMU para o atendimento das pessoas em situação de rua, além da atuação nos casos de violência nas cidades brasileiras, como foi Maceió, o caso mais recente, de massacre das pessoas em situação de rua. Os presentes fizeram uma apresentação de seus projetos sobre a constituição das pautas e matérias, participação dos vendedores, além da apresentação de reflexões sobre a conjuntura político-social e institucional de suas cidades relacionada à população em situação de rua e ao trabalho das publicações. Outro aspecto discutido foram os desafios como a falta de verba, ausência de sede e estrutura, por exemplo. Apesar de diferenças entre os veículos verificou-se que estes meios proporcionam oportunidades dos vendedores se reconhecerem como trabalhadores, encontrarem saídas à situação de rua e poderem rever seus projetos de vida. O fato de os vendedores entrarem em espaços que não circulavam habitualmente pode contribuir para discussão de preconceitos relacionados à população em situação de rua. Ao final do encontro, os presentes manifestaram interesse na criação de uma rede nacional de revistas de rua. Nasceu, portanto, a Rede Brasil de Publicações de Rua com o intuito de fortalecer o trabalho realizado pelas publicações fundadoras, incentivar a formação e consolidação de novas publicações, expandir a abrangência da Rede no país, desenvolver projetos de formação e capacitação de seus integrantes, contribuir e participar ativamente das políticas públicas, sensibilizar a sociedade para uma mudança em seu olhar e suas ações em relação às pessoas em situação de rua, entre outros objetivos. * Informações retiradas do relatório feito por Ana Cristina Fagundes Souto. Edição N° 193 - Dezembro de 2010
- Pesquisa em SP revela perfil e expectativas sobre trabalho
No mês de setembro de 2010, o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), técnicos do Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional da População em Situação de Rua e organizações sociais realizaram pesquisa sobre trabalho e geração de renda para a população em situação de rua da cidade de São Paulo. Foram aplicados 100 questionários e constituídos três grupos de discussão com pessoas que frequentam organizações sociais que participaram da pesquisa. Antecedentes Esta pesquisa foi resultado de um esforço conjunto da sociedade civil. A ideia surgiu no âmbito do Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional. Esse projeto promoveu 10 encontros entre o MNPR/SP e organizações sociais para discutir os desafios enfrentados tanto pelas iniciativas de trabalho e geração de renda levadas pelas entidades e poder público, assim como as dificuldades enfrentadas pelas próprias pessoas em situação de rua para conseguir trabalho e permanecer no mesmo. Após esses encontros, o grupo decidiu realizar a pesquisa para “ouvir diretamente a rua” nas suas expectativas, dificuldades e experiências com relação ao mundo do trabalho e da geração de renda. Principais resultados A pesquisa confirmou o dado revelado pelo Censo da FIPE (2009) para a cidade de São Paulo: quem está na rua são os trabalhadores! 96% dos entrevistados trabalhavam de forma regular antes de ir para as ruas e 90% continuam trabalhando na rua, principalmente com a catação e venda de material reciclável (35%), carga e descarga (16%), serviços de manutenção/ reforma/construção (9%) e lavagem e guarda carros (8%). Apenas 5% declararam como sua principal forma de obter dinheiro “pedindo nas ruas”. Quando perguntados sobre o significado de ter um trabalho ou emprego, 35% o associaram a “uma oportunidade para melhorar de vida” e 25% a “ser reconhecido pela sociedade”. Dessa forma, a maioria associou o trabalho com oportunidade de saída das ruas ou de ser reconhecido como um cidadão. Já a dimensão mais imediata foi menos citada: sobrevivência (16%) e ganhar dinheiro (12%). A grande maioria (70%) gostaria de trabalhar com carteira assinada, como mostra o gráfico a seguir: As principais dificuldades para conseguir emprego são: Os dois maiores objetivos citados para os próximos seis meses, empatados com 33%, foram “alugar um quarto/conseguir moradia” e “conseguir trabalho”, ambas as dimensões relacionadas com a saída das ruas. Veja gráfico abaixo: De acordo com o resultado do questionário, as atividades que as pessoas têm mais interesse de trabalhar coincidiram fortemente com as atividades que elas têm mais experiência de trabalho, que são: serviços de manutenção / reforma / construção, serviços gerais e técnicos e profissionais. Já durante os grupos de discussão, apareceram novas atividades como agentes de turismo, jardineiros, padeiros e serviços de limpeza. Segundo a pesquisa, 49% não têm qualificação profissional na atividade que tem experiência, demonstrando necessidade de cursos de qualificação profissional. As organizações sociais que participaram com o MNPR na pesquisa foram: Associação Minha Rua Minha Casa (OAF) Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) – Mooca Centro Franciscano e Recifran (Sefras) Comunidade São Martinho de Lima Coorpel (Cooperativa de Material Reciclável ligada ao Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos) Políticas públicas Durante as discussões em grupo foram levantados aspectos fundamentais para pensar políticas públicas de trabalho e geração de renda: Aprofundar o conhecimento sobre a população em situação de rua. Para propor cursos profissionalizantes é necessário cruzar a expectativa das pessoas com a oferta de vagas do mercado. Encaminhar para vagas de emprego/trabalho, ajudando a superar dificuldades como a falta de comprovante de residência, entre outras. Necessidade de acompanhamento psicossocial para garantir a continuidade no emprego/trabalho. Além dessas questões, a intersetorialidade das políticas públicas foi destacada como fundamental, isto é, que as políticas de trabalho estejam articuladas com as políticas de Assistência Social, Saúde, Educação e Habitação. Somente com políticas articuladas será possível a “saída das ruas” e reinserção no mercado de trabalho. Mais informações sobre a pesquisa, acesse www.falarua.org Edição N° 192 - Novembro de 2010
- “A população de rua tem direito de verdade”
É dia 24 de dezembro de 2010. O palco está montado na Sé e aos poucos a praça vai se colorindo de gente. O Natal Solidário é um evento que já está em sua 7ª edição e é uma festa de confraternização preparada pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) e por várias organizações parceiras*. A preparação deste evento começou no final de setembro e durante três meses, reuniramse, semanalmente, cerca de 30 pessoas para definir a programação e tomar as providências. Não há dinheiro para tudo, mas a equipe sonha, e decide fazer uma série de atividades: grafitagem, confecção de objetos criados a partir de materiais recicláveis, recolher mensagens e imagens em vídeo, atendimento para encaminhamentos jurídicos e de denúncias para casos de violência e discriminação contra a população de rua, trocas e doações de livros e revistas e a confecção de cartões de Natal. Soma-se a essa efervescência de vontades criativas, um presépio vivo que se apresentou para trazer mais cor e poesia para a festa. Para Nina Laurindo, do Sefras, o Natal Solidário foi muito bom pela presença de muitas pessoas novas ligadas a musica. “O diferencial deste ano foi a organização de toda a parte cultural com o envolvimento de muita gente”. Do palco montado na Praça da Sé, via-se a alegria espelhada no rosto dos participantes. Ali se apresentaram vários artistas, cantores, atores vindos não somente da situação de rua e mostravam seus talentos! Anderson Lopes Miranda, do MNPR, abriu a programação com uma ciranda e apresentação da peça “Liberdade, liberdade”, de Millôr Fernandes, dirigida por Tereza Aguiar. Em seguida, foram se apresentando, seu João Montreal e convidados; Bob Neto; Carlinhos Luz; o Sarau Encontro de Utopias; Cydoca; Enah há e banda; Wilminha da Vai-Vai; Nelson Brolesi; Ed Boy do Pandeiro; Dinho Nascimento acompanhado de sua esposa Cecília e do grupo Raizate (Pilar e filhos); as bandas Astronauta; Moleque de Rua; Unidade Reggae; Xemalani e Estilo Livre, dentre outros. “Foi fundamental participar e organizar esse Natal. Foi um dos melhores natais solidários que eu participei porque soubemos lidar com todas as situações, confortar o povo mesmo carente de rua e levamos alegria às pessoas”, disse Joeliton Alves dos Santos. No meio da tarde há uma pausa para um respiro e o padre Günther transmitiu mensagem de esperança e conforto espiritual aos presentes. A festa foi até às 19 horas. A realização do Natal Solidário, para Anderson Lopes Miranda, propiciou “maior aproximação entre as organizações e os companheiros de rua. É um trabalho muito legal que é feito com a rua e para a rua. Isso é fundamental. Neste Natal houve grande repercussão e a cada ano ele vai melhorar na participação. Nenhum acidente houve porque o povo fez parte e se sentiu incluído”. * Associação Rede Rua; Caicó; Caixa Econômica Federal; Ceasa; Centro Franciscano de Reinserção Social/Sefras; Centro Gaspar Garcia; Encontro de Utopias; Fórum de Esquerda, Metuia; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/Secretaria Nacional de Assistência Social; Ministério dos Esportes; Movimento de Moradia/ Pastoral Ipiranga; Mundo em Foco; OAF/Minha Rua Minha Casa/Casa de Oração; OCAS; Refeitório Penaforte; Secretaria Nacional dos Direitos Humanos; Sindicato dos Comerciários; Smads e ARSE e Unilever. Edição N° 194 - Janeiro / Fevereiro de 2011
- O Centro de Acolhida fecha após queda do muro
No dia 17 de dezembro, por volta das três horas da madrugada, caiu o muro do Centro de Acolhida Capela do Socorro, na Avenida Teotônio Vilela, 83. O prédio fica próximo a uma obra que fazia escavações. Além do muro, caiu o telhado onde estavam os chuveiros e tanques para lavar roupa. Segundo Sandra Gomes Domingues, gerente do Centro, se fosse durante o dia teria sido uma tragédia. No dia 23 de dezembro, houve interdição do prédio e os conviventes foram transferidos para outros serviços. Segundo, Paulo Mendes de Lima, ex-convivente do Capela do Socorro, a assistente social lhe informou que além do muro, o prédio estava condenado. Segundo Maria Nazareth Cupertino, assistente social do Pousada, este serviço não consegue absorver os conviventes. Para Arivaldo Ferreira Portela, acolhido no Pousada, “se o albergue não abrir vai ficar muito ruim, porque várias pessoas estão dormindo na rua”. A organização Santa Lúcia está disposta a continuar o atendimento muito embora a Smads tenha rescindido o convênio”, segundo Domingues.
- Do trecho para Rua Oscar Freire
Nesse espaço limitado, o final dessa história termina com o nascimento de Athos Daniel Pereira Leite, hoje com três meses de idade. Sua mãe é Jaqueline Pereira e seu pai Marcelo Leite Santos de Matos. Eles moram num quarto no centro de São Paulo. Recentemente, saíram na mídia, deram entrevistas e suas fotos, resultado de um curso, foram leiloadas numa galeria. “Nunca imaginava ir à Rua Oscar Freire. Conhecia esta rua pela televisão. Um dia vi uma foto minha, assinada, numa exposição, com uma grade escrita artista: meu nome e o da Jaqueline. Aquilo para mim e para a Jack foi tudo! Nem o dinheiro do leilão foi tão gratificante. O dinheiro do fundo acaba!” No momento, estão participando da segunda fase do curso de fotografia do Instituto Brasis. Atualmente, suas fotos estão na exposição “Fendas da Cidade” no Espaço Cultural do Conjunto Nacional. Marcelo, 29 anos, nasceu em Itabuna (BA), tem seis irmãos e seus pais ainda estão vivos e continuam na Bahia. Saiu para o trecho ainda jovem, com 16 anos. Trabalhou como garçom em vários restaurantes de Porto Seguro. Depois de inúmeros problemas pessoais resolveu correr atrás de uma oportunidade. “Eu sou gente. Estão achando que eu não sou mais gente, mas ainda eu sou gente”. Assim, veio para São Paulo em busca dessa oportunidade. Inicialmente, teve que ir morar num albergue, para não ficar na rua. “O mais importante é que aqui em São Paulo eu me reencontrei”. Quando chegou, ainda fazia uso de drogas, mas o que mais lhe ajudou foi “a cultura das pessoas que estavam ao redor e a própria cultura dentro de mim”, declarou Marcelo. Ele se envolveu com as peças de teatro do albergue Arsenal da Esperança, em particular o grupo de teatro “Alto do Circo”. “O teatro – as pessoas não sabem – me deu um incentivo muito grande. Ver aquelas pessoas que têm condições no meio do povo, entre os albergados para poder fazer peça de teatro, isso me emocionava”. Marcelo é um dos frequentadores do Ponto de Encontro e Cultura, coordenado pelo Metuia, que acontece toda segunda-feira, das 17 às 21 horas. “Comecei a me ocupar na OCAS e no Restaura-me, na oficina do Tião e, também, o pessoal do Metuia que me deu um incentivo de que vale a pena que eu existo”. Marcelo disse que para vender a OCAS ele precisava de parceiro, porque sozinho ele não conseguiria. “Então, além de participar das oficinas do Restaura-me, vendia água. Nesse período, encontrou a Jack, que não estava na rua e tinha acabado de perder o emprego”. Desse dia em diante, os dois ficaram juntos e agora já são três com a chegada do Daniel. “Agora o pai dele vai estudar, se formar e ele vai ter muito orgulho do pai. Não vou precisar fazer nenhuma coisa errada”. Edição N° 194 - Janeiro / Fevereiro de 2011
- Cultura da rua ocupa Brasília
Em plena terça-feira (24/08), Congresso Nacional esvaziado, pessoas em situação de rua, organizadas pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), movimentaram as ruas da esplanada dos Ministérios e ocuparam o Palácio do Planalto. A manifestação foi a 2ª Marcha Nacional da População em Situação de Rua, em Brasília. A primeira aconteceu em 2001, em conjunto com o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR). Na época, os movimentos reivindicaram um encontro com o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, mas o pedido foi ignorado. De vários lugares do país Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Vitória, Belo Horizonte, Fortaleza e do Distrito Federal mandaram suas representações. Emerson Ramires dos Santos, 33 anos, deixou seu trabalho com venda de frutos do mar, numa feira livre em Curitiba, para fazer parte da manifestação. “Estou na rua, mas tenho dignidade. Estou aqui reconhecendo que este governo foi o único que abriu as portas para a gente, mas também para manifestar que existe muito a se fazer”. O ponto inicial de concentração foi a Catedral de Brasília. A música, a teatralidade, o canto, a cultura da rua de várias localidades se fundiram em uma única manifestação. O coordenador nacional do MNPR, Samuel Rodrigues, mandou seu recado em alto e bom som. “Pisem firme neste chão, pois este local não é apenas a sede do poder, é também nossa sede. Precisamos ocupar esta cidade”. E mais, “saímos das ruas das grandes capitais do Brasil e colocamos os pés nas ruas do Distrito Federal para mostrar nossa cara, para mostrar o tratamento que recebemos nas grandes cidades desta nação”. A passeata percorreu as ruas dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, dos Esportes, pela Secretaria de Promoção Racial rumo ao Congresso Na-cional. Lá, nova parada. Pelo alto falante, o MNPR mandou seu recado, embora a Casa estivesse praticamente vazia. Davi Vieira Araújo, do Ceará, foi contundente. “Não viemos aqui pedir nada, viemos cobrar nossos direitos. Viemos denunciar as mortes que continuam acontecendo”. O coordenador do MNPR no Rio Grande do Sul, Sérgio Carvalho Borges, colaborou com Davi em sua manifestação. “Estamos aqui por todos aqueles que sofreram violências, estão sofrendo violência e pelos muitos que ainda a enfrentarão de forma silenciosa em suas cidades”. A coordenadora do movimento na Bahia, Maria Lúcia Santos Pereira, lembrou a promessa feita em 2001 de que a população em situação de rua voltaria a Brasília. “Prometemos e aqui estamos. Viemos mostrar nossa unidade”, afirmou. Para Anita Gomes dos Santos, da coordenação do MNPR em Belo Horizonte, o fato de o governo ter aberto as portas do palácio para receber a população em situação de rua e dialogar de igual para igual no processo de construção de políticas é um reconhecimento “de que somos seres humanos”. A matéria na íntegra e fotos da passeata você pode conferir em www.falarua.org Gilberto assume compromisso com a habitação para população de rua O Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho, se comprometeu, durante encontro com o Movimento Nacional da População de Rua, no Palácio do Planalto, na terça-feira (24/08), a empenhar esforços, nesta reta final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e trabalhar para consolidar pontos fundamentais que deem mais segurança e estabilidade à população em situação de rua. “Temos que manter nestes quatro meses nossa relação bem intensa para que possamos fechar com chave de ouro este governo”, afirmou. Um dos pontos citados por Carvalho foi a questão da moradia para a população em situação de rua. Padre Júlio Lancellotti lembrou o fato de o presidente cobrar todo ano, nos tradicionais encontros de final de ano com a população de rua, um projeto na área de habitação. “O presidente Lula não vai ficar feliz se, em dezembro, não tivermos caminhado nada na questão da Habitação. Se não tivermos nada a apresentar será uma vergonha”. O Chefe de Gabinete do presidente concordou. “Padre Júlio tem razão. Vamos levar uma baita bronca do presidente se não apresentarmos nada a vocês”. Diante de denúncias de violações de Direitos nas capitais brasileiras, por conta das obras já iniciadas para receber a Copa do Mundo de 2014, feitas principalmente por representantes do MNPR do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, Carvalho assumiu outro compromisso, em nome do presidente Lula. “Não vamos permitir. Deixo aqui nosso compromisso”. A ideia, elaborada por Padre Júlio, é de que o processo de estruturação da Copa seja inclusivo e não excludente. Por isso, lançou a sugestão de que a população em situação de rua seja preparada como agente de turismo. Carvalho se entusiasmou com a proposta. “Vamos discutir com o Ministério do Turismo. A ideia é excelente, para que não sejam afastados, mas integrados no processo que vai mostrar ao mundo o que é o Brasil”. O coordenador nacional do MNPR, Anderson Lopes Miranda, fez um apelo às autoridades presentes. “Precisamos que o decreto que institui a Política Nacional para a população em situação de rua seja transformado em lei. Isso para impedir que a Política Nacional seja anulada pelo próximo presidente que vier”. O debate aconteceu logo após a 2ª Marcha Nacional da População em Situação de Rua, em Brasília. Cerca de 200 pessoas foram recebidas pelo ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, pela ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, pelo chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho, no Palácio do Planalto, e pelo assessor do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Diogo Santana. Edição N° 191 - Setembro / Outubro de 2010