
Maria de Medeiros Pereira, carioca de 72 anos, conhecida como dona Mara, moradora do Largo Santa Cecília, faleceu na manhã do dia 11 de junho de 2011, num domingo, no Pronto- Socorro da Barra Funda, para onde foi levada no sábado, depois de muitas tentativas frustradas de atendimento pelo SAMU.
Conheci dona Mara, dois meses antes de sua morte, apresentado pela Tina Galvão, moradora dos arredores do Largo Santa Cecília que já expressava sua preocupação com a saúde de Mara e para onde poderia encaminhá-la para os cuidados que se faziam urgentes.
O nó do problema é que ela sempre se recusou a sair do Largo. Ninguém conseguia convencê-la de se tratar. Foi solicitada uma interdição judicial ao Ministério Público para que alguém cuidasse dela, mas não se conseguiu.
Muitas histórias são contadas sobre ela, mas o fato é que ela fez do Largo sua casa, dos bancos sua poltrona e dos transeuntes e moradores seus familiares. Seu companheiro conhecido como Elias da Silva, aparecia quase sempre para lhe trazer comida. Havia notícia que sua filha mora no Rio de Janeiro.
Segundo frequentadores do Largo, Mara já teve uma vida “muito boa”. Ela recebia uma pensão que era de sua mãe de, aproximadamente, R$ 2.000,00 (dois mil reais) que, segundo alguns, quem administrava esse dinheiro era seu companheiro. Conta-se que ela sempre ajudou os moradores de rua e que, antes de ir para rua morava em hotéis.
Assim era dona Mara que agora vai deixar o Largo Santa Cecília mais vazio. E para aqueles que a conheceram e acompanharam seus últimos momentos, uma revolta pelo jeito que veio a falecer.
No sábado, dia 11 de junho, chamado pela Tina, encontrei a sentada num banco que fica bem perto da Igreja. Quando a vi, pensei que já estivesse morta. Ainda respirava forte e parecia lutar para viver muito mais. Não foi fácil conseguir um atendimento para ela, como tem sido para todos que estão na rua. Ao lado do banco onde estava Mara, uma base da GCM (P70330) e mais ao fundo do Largo, uma base da PM. A GCM dizia que não podia levá-la ao hospital e já tinha acionado o SAMU (protocolo 831732 – 14 horas). Já eram 16 horas e o SAMU não chegava. Mara permanecia sentada, ou melhor, quase deitada no banco. Ás 16h10 chegou a ambulância do SAMU e os profissionais fizeram todos os procedimentos de emergência e levaram Mara para o Pronto-Socorro da Barra Funda.
Infelizmente, o esforço de tantas pessoas veio tarde. O corpo da Mara já não tinha mais resistência. Sua morte já vinha sendo anunciada por aqueles que a conheciam. Ninguém consegue viver tanto tempo nas condições em que Mara e tantos outros companheiros vivem nas ruas.
Mara morreu e muitos outros devem estar morrendo nesse momento porque o Estado não está preparado para salvar essas vidas “que não valem nada” aos olhos de muitos. Só atrapalham! Uma moradora de rua a menos. O Largo está com um banco vazio!
No cemitério, seu companheiro, este jornalista e três funcionários da Prefeitura acompanharam o enterro que Mara já deixara pago.
Edição N° 199 - Julho de 2011
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